terça-feira, 1 de agosto de 2017

O MEIO SOCIAL E SEUS OLHARES DIFERENTES




Um texto ilustrado por uma foto que com certeza trará sensações, reações e significados diferentes para cada leitor..
Cada mochila dessas tem um peso considerável para se carregar dessa maneira andando pelas ruas de São Paulo.. Nesse texto quero dividir com vocês como foi o meu dia de hoje, 01/08/2017. Em uma única tarde, pude perceber muitos olhares e reações da pessoa ao me verem andar desse jeito na rua, e dentro do metro.
Meu dia hoje teve início pontualmente as 08:00 e diferente dos demais dias onde trabalho home office, fui para a empresa resolver problemas com o meu computador de trabalho (na mochila da frente estava todo o equipamento)
Começo a trabalhar e entre um atendimento e outro, o técnico fazia testes para solucionar as falhas nas ligações recebidas. Até aí, nada de diferente da rotina diária.. Certo momento do dia a minha chefe me chama e diz: Rô, você tem que pegar seu kit e sua mochila ( a mochila que está nas costas, que tinha um caderno, uma caneca, um squizzi, a minha blusa de moletom, um guarda chuva, uma pelúcia que comprei no caminho de volta).
Naquele momento fiquei esquematizando como faria para sair da empresa, e ir para o dentista com duas mochilas bem pesadas, e ainda ter de encarar o metro.. Pois bem, a foto ilustra como me ajeitei para fazer o trajeto, que não era tão longo mas tinha alguns obstáculos.
Vamos lá... Antes de sair do Sebrae onde escutei de longe: Essa garota é demais.. Vai de metro com as duas mochilas e vai numa boa.. Saindo, para na banca de jornal para comprar uma pelúcia e meu amigo se oferece para me ajudar a carregar uma das mochilas até o metro.. Eu aceito, com toda certeza..
Ao descer uma das escadas rolantes do metro nos perguntamos o motivo de não haver na estação Paraíso o trajeto todo de escada rolante até a plataforma de embarque para quem embarca sentido Vila Prudente, e meu amigo então responde: Porque quem fez provavelmente não pensou na questão da acessibilidade para todos.. Bom, questionamentos a parte cada um foi para um lado, e lá fui eu com as duas mochilas para o meu destino, e como sempre faço fui observando as pessoas e dessa vez foi cômico.. Ou seria trágico?? Tudo depende do ponto de vista de quem ler o texto
Sabe quando a pessoa te olha um longo tempo, aí você olha para ela, ela disfarça e depois volta a te olhar de novo.. Eu percebo na hora quando a pessoa se constrange, e parece que quer falar alguma coisa.. Parecia que todos queriam me dar o lugar, e ao mesmo tempo tinham receio de eu me ofender, ou algo do tipo.
Cheguei ao meu destino, estação Consolação do Metro.. Êta estação para ser cheia a qualquer hora do dia.. É gente que não acaba mais, e todo mundo parece que está atrasado.. E lá fui eu, subir a escada rolante que parece nunca ter fim.. Algo que aparentemente seria tranquilo, se as pessoas fossem menos desesperadas e entendessem a DIFERENÇA entre ela e a escada normal.
Quero saber quem foi o SER HUMANO BRILHANTE que criou a bendita da frase: POR FAVOR, NA ESCADA ROLANTE DEIXE A ESQUERDA LIVRE!!
Esse cidadão com certeza não tem MOBILIDADE REDUZIDA. Sejamos sensatos e honestos, se você tem pressa e não pode esperar a velocidade da escada rolante, POR QUÊ não faz uso da outra escada??
Eu estava com as duas mochilas e na esquerda da escada rolante.. Ouvi umas 10 vezes: A ESQUERDA TEM QUE DEIXAR LIVRE!!! Enfim saí do metro, e ao caminhar na Avenida Paulista com as duas mochilas, os olhares continuavam e comentários também. A moça atrás de mim comentou com a amiga: COITADA DA MOÇA, SEM NINGUÉM PARA AJUDÁ-LA!!
Bateu uma vontade de virar e dizer: SE A SENHORA QUISER AJUDAR, AGRADEÇO!!
Saí da dentista, eram 17:30, e o metro começando a encher.. Na entrada do metro Consolação a escada que desce até as bilheterias não é rolante, então desço degrau por degrau com uma mochila na mão direita e a outra nas costas.. E mais uma as pessoas se irritam..
Passo a catraca e a próxima escada é a rolante, e lá estou eu parada do lado esquerdo e ouvindo insistentemente: A ESQUERDA TEM QUE FICAR LIVRE. Da Consolação até a Vila Prudente consigo vir sentada e faço valer meus direitos ao usar o assento preferencial. Chego na Vila Prudente e dessa vez espero todos subirem para subir com calma e ninguém me encher o saco.
Assim é minha rotina pelas ruas de São Paulo, olhares diferentes a todo tempo. Hoje esses olhares não me causam medo e não me fazem desistir das minhas tarefas. A deficiência não é um pretexto para desistir de enfrentar os obstáculos da sociedade, é sim uma maneira de enfrentar de frente cada desafio.
Olhares diferentes, conclusões antecipadas, falta de acessibilidade.. Aprender a conviver com todas essas questões é um exercício diário, pois todos os dias são diferentes



sábado, 15 de julho de 2017

TRABALHAR COM A INCLUSÃO - UM DESAFIO CONSTANTE

O primeiro texto de 2017... Não diferente de todos os outros que aqui estão, esse chega para causar aquele bom e velho desconforto por nos fazer refletir sobre um assunto muito falado e pouco praticado: A INCLUSÃO.
Confesso a vocês que estou tendo a real noção do tamanho do buraco que resolvi pular e me aventurar, só agora que comecei a desenvolver palestras sobre o tema. Tema onde você tem que ter o feeling apurado para poder atrair a plateia, pois é um tema complexo e que as vezes abre feridas que pareciam estar cicatrizadas.
Certo dia ao conversar com uma amiga para entender o baixo interesse do público em participar da palestra, ela me disse que o interesse sobre falar sobre Inclusão era muito maior para pessoas que trabalham nesse meio, ou que tem algum propósito em cima dele.
Isso me deixou ainda mais inquieta e determinada a descobrir caminhos para sensibilizar as pessoas. Fugir daquilo que acredito ser meu destino está fora dos planos, então só me resta ir cada vez mais a fundo e aumentar o tamanho do buraco cada dia mais.
Ontem consegui finalmente assistir ao filme brasileiro "O Filho Eterno", filme que traz muito a tona o tema de inclusão em vários aspectos. Um filme que se passa em 21 de Junho de 1982 e traz a história de pais que tem um filho com Síndrome de Down e precisam aprender juntos a como lídar com essa situação.
Alguns pontos me chamaram a atenção e me fizeram fazer um paralelo com a minha história de vida, conhecida por muitos de vocês que acompanham meus passos. Assim como eu o pequeno Fabricio nasceu em uma época onde não havia na medicina grandes tecnologias e tratamentos para as pessoas que nasciam com alguma deficiência.
Fabricio nasceu em 21 de Junho de 1982, eu nasci em 16 de Junho de 1984. Ele nasceu com Síndrome de Down (na época os médicos davam o diagnóstico de mongolismo), eu nasci com hidrocefalia (quando nasci o fisiatra disse aos meus pais que eu não iria andar e muito menos falar).
Se eu for citar aqui todos os pontos em comum entre eu e a história do garoto, esse texto nunca terá fim. E na verdade esse é o barato de se falar de Inclusão, um tema que nunca terá fim pois cada um tem o seu ponte de vista que NUNCA terá CERTO ou ERRADO.
Fato é que depois de ter assistido ao filme, tive a certeza de que o MEDO faz com que as pessoas se esquivem de ter que falar sobre um assunto que causa desconforto, pois infelizmente fomos todos gerados e criados dentro de uma SOCIEDADE que tem como principal foco criar um PADRÃO para todas as coisas..
Tenho esse grande desafio de quebrar essa barreira: SOCIEDADE X INCLUSÃO. O bacana nesse desafio é que entre uma palestra e outra já percebi que palestras 100% interativas, onde tenho a oportunidade de trocar com a plateia, tornam essa missão mais tranquila.. As pessoas perdem o medo e se desarmam sem perceber.
O melhor de tudo é descobrir que tenho um leque vasto de temas que trazem a tona o propósito de INCLUIR e de PERTENCER a um grupo..

Faço o convite para assistirem ao filme: "O Filho Eterno". É .só acessar o link abaixo:


Encerro o texto deixando aqui um recado a todos vocês:

Falar de Inclusão não é tarefa fácil, fazer a Inclusão também não é.. Apenas reflita sobre seus atos e ações e se pergunte: Eu realmente sei o que significa a palavra INCLUSÃO?

Muitas vezes ficamos com a ilusão de que INCLUSÃO está ligada a Pessoa com Deficiência, e na verdade ela se associa a todas aquelas pessoas que são rotuladas como FORA DO PADRÃO.