domingo, 4 de outubro de 2015

LEI DE COTAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA - UMA VISÃO UM TANTO QUANTO PESSOAL SOBRE ESSA LEI

Antes de começar mais um texto sobre um tema que tem muito a ser discutido, vamos saber um pouco mais sobre essa tal Lei de Cotas:

Lei de Cotas
A Lei de Cotas, define que todas as empresas privadas com mais de 100 funcionários devem preencher entre 2 e 5% de suas vagas com trabalhadores que tenham algum tipo de deficiência. As empresas que possuem de 100 a 200 funcionários devem reservar, obrigatoriamente, 2% de suas vagas para pessoas com deficiência; entre 201 e 500 funcionários, 3%; entre 501 e 1000 funcionários, 4%; empresas com mais de 1001 funcionários, 5% das suas vagas. 
A baixa escolaridade e a falta de qualificação profissional são apontadas como as principais causas da não contratação de pessoas com deficiência, além da adaptação necessária na estrutura física das organizações, para que os espaços possam ser adequados ao trabalho e ao deslocamento dos profissionais.
De acordo com o art. 2º da Lei 10.098/2000, acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Quais as deficiências que se enquadram na legislação que define as cotas?

São as deficiências estabelecidas pelo Decreto 5.296/04 descritas nos limites e graus de comprometimento. Para que se inclua um profissional na cota da empresa é necessário que ele seja avaliado por um médico do trabalho, que determinará sua inclusão ou não na cota seguindo os critérios do decreto 5.296\04. Neste caso a Lei define para: Deficiência Visual – deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0, 05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0, 3 e 0, 05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. Deficiência Auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. Deficiência Física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções. Deficiência Intelectual: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: Comunicação; Cuidado pessoal; Habilidades sociais; Utilização dos recursos da comunidade; Saúde e segurança; Habilidades acadêmicas; Lazer; Trabalho. Deficiência Múltipla: associação de duas ou mais deficiências.

Muitos de vocês devem se perguntar nesse exato momento o por quê EU, uma pessoa que tem deficiência, e que está enquadrada na Lei de Cotas para Deficientes, resolve escrever sobre esse tema. Na verdade, eu nunca fui atrás para entender nos mínimos detalhes sobre essa lei e, tudo o que eu sabia era que essa lei foi criada para dar a todas as pessoas com deficiência, o direito a entrar no mercado de trabalho. Sendo assim, pode-se dizer que essa lei tem muito a ver com a Inclusão Social no Mercado de Trabalho, certo?? Não necessariamente, se levarmos em consideração algumas questões que mais uma vez só podem ser vista a olho nú, por aquele que tem uma deficiência e também tem o pensamento que vai além da deficiência.
A ideia de escrever esse texto surgiu a partir de uma conversa maravilhosa com uma amiga muito querida que conheço faz alguns anos, e que tem me ensinado muitas coisas dentro da área de Inclusão Social.. Silvana Gramignoli, amiga que tem me feito abrir a mente e os olhos para minhas próprias inquietações, minhas angústias, e tem repassado seus conhecimentos a quem um dia tem o sonho de SER uma excelente profissional como ela dentro da área de Psicologia, trabalhando com Inclusão Social.
Mas vamos ao que interessa... Criar uma lei para facilitar a inserção de Pessoas com Deficiência ao mercado de trabalho para quem lê sobre o assunto pela primeira vez é algo lindo, e pode-se criar a ilusão de que os problemas da pessoa com deficiência para entrar no Mercado de Trabalho estão resolvidos. CERTO ou ERRADO?
Sinceramente, mantenho a minha opinião de que tudo que é criado apenas em relatos e não em vivências, tem grandes chances de não dar certo. No papel a lei de cotas para deficiente é perfeita, mas na prática tem muitas falhas.
Eu faço parte do programa da Lei de Cotas, mas entendendo melhor o conceito e quem pode fazer parte dessa Lei, me pergunto se deveria mesmo estar dentro desse percentual. Não tenho nenhum comprometimento cognitivo, tenho formação em psicologia, e por conta de uma pequena sequela em função da minha deficiência, entro na lei de cotas. Em termos de estrutura de trabalho, a única adaptação que preciso em questão de espaço físico é o uso de um headset, aparelho utilizado geralmente em empresas de call center para uso do telefone. Mas se pararmos para pensar, o headset deveria ser artigo obrigatório para todo funcionário que faz uso frequente do telefone no trabalho e que também utiliza o computador de forma simultânea. Ou seja, será mesmo que eu precisaria ser enquadrada na Lei de Cotas?
Um outro fato que sempre me intrigou, é o formato dos processos seletivos, que são realizados de forma separada, justamente pelo fato de que as vagas são específicas para as Pessoas com Deficiência. Mas a Lei de Cotas não foi criada para facilitar a Inclusão dessas pessoas no Mercado de Trabalho? Inclusão com processo seletivo separado?
Muitos vão dizer: Ah, mas a avaliação tem que ser diferente, não dá para comparar. Comparar o que, meu povo?? A ÚNICA diferença que deve ser avaliada, é após o processo seletivo, para verificar quais as necessidades que a pessoa terá dentro do ambiente de trabalho, mudanças de estrutura física. Fora isso, não tem NENHUMA DIFERENÇA.
Mas e se formos falar da pessoa com deficiência intelectual, Roberta? Sendo bem realista, de todos os processos seletivos que já participei, em nenhum deles eu vi uma pessoa com deficiência intelectual, embora eu tenha conhecimento de empresas que tem funcionários com tal quadro, e mesmo assim restrito a pessoa com Síndrome de Down. E mesmo que tivéssemos pessoas com esse perfil, acho que os processos seletivos poderiam ser pensados em ser realizados dentro de um formato mais inclusivo.
Que fique claro que esse texto não é uma reprovação a Lei de Cotas para a Pessoa com Deficiência, mas sim um desabafo de quem já viu essa mesma lei ser um prato cheio para o estigma ao Deficiente, pois as mentes mais preconceituosas adoram dizer que: O DEFICIENTE SÓ ESTÁ EMPREGADO POIS EXISTE UMA COTA QUE A EMPRESA TEM QUE CUMPRIR PARA NÃO SER MULTADA.

"NÃO DEIXE QUE SUA CAPACIDADE SE ESCONDA ATRÁS DE UMA LEI. SE VOCÊ ESTÁ EMPREGADO FOI PORQUE VOCÊ TEVE UM DESTAQUE. MOSTRE A SUA CAPACIDADE A TODO MOMENTO, E LEMBRE-SE SEMPRE: A DEFICIÊNCIA ESTÁ NOS OLHOS DE QUEM É INCAPAZ DE ENXERGAR ALÉM DELA".



domingo, 27 de setembro de 2015

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: SERÁ QUE ELA EXISTE?




Para ilustrar esse texto vou deixar um convite a todos vocês para assistirem ao filme: "Como Estrelas na Terra, Toda Criança é Especial".
Um dos assuntos mais discutidos quando se fala na Inclusão Social, é a questão da Educação Inclusiva. Um tema que se fizermos uma roda de discussão entre várias pessoas, vai ser assunto de longas horas.
Eu vou ser direta, e vou dizer que só aceito falar desse assunto com quem sabe ouvir e respeitar a opinião do próximo, afinal ninguém aqui é dono da verdade. 
Falo de peito aberto que a Educação Inclusiva aqui no Brasil é o meu sonho de consumo. Sim, sonho de consumo pois não vejo isso acontecer de forma clara e como realmente deve ser. Sei que muitas pessoas que me conhecem vão dizer: Ah, mas você estudou em escola de regime regular. Mas existem dois fatores importantes nessa história toda: primeiro que a minha deficiência deixou sequelas pouco aparentes, então a escola tinha de ter SÓ a boa vontade de me avaliar e ver se eles poderiam me atender.. Quanto a isso não tive muitos problemas.. O segundo fator é fazer com que os professores soubessem lidar com a questão do preconceito, e fazer com que eu não fosse excluída pelos outros alunos.
Essa é a pior parte, fazer todo um trabalho com os alunos, para que eles entendam que aquele amigo que tem uma deficiência, é uma criança normal. Isso envolve um trabalho em conjunto entre o professor e o psicólogo da escola, quando a escola tem um.
Mas como já falei, embora tenha esses dois fatores cruciais, fazer Educação Inclusiva com pessoas com caso semelhante ao meu, é relativamente fácil.. Agora, e com outras deficiências, será que acontece da mesma maneira? Vou dizer sem titubear que não. 
E aí vem a pergunta: Nesses casos de quem é a culpa? Existe um culpado? É da escola que não prepara seus professores e não tem a estrutura adequada? É do professor que sabe que a estrutura não é adequada e se acomoda, para se livrar de qualquer culpa que possa existir? É dos pais que insistem em matricular seus filhos em escola de regime regular, por acharem que ele tem condições de estudar nessa escola?
O filme acima conta a história de um garoto que sofre de DISLEXIA: perturbação na aprendizagem da leitura pela dificuldade no reconhecimento da correspondência entre os símbolos gráficos e os fonemas, bem como na transformação de signos escritos em signos verbais. Os pais e nem seus professores se preocuparam com a sua dificuldade, e sempre achavam que o menino fazia corpo mole e estava fazendo graça. Até que quando estava em um colégio interno, pois seu pai havia tomado essa decisão, ele foi acolhido por um professor que soube observar as suas dificuldades e como trabalhar a favor da sua real dificuldade de aprendizado: a dislexia.
Vendo esse filme, e fazendo um trabalho diário com pessoas que tem Deficiência Intelectual, entendo que não se deve generalizar, pois cada caso é um caso. Cada um tem seu tempo, cada um tem a sua limitação. E se você me perguntar se HOJE é possível inserir uma pessoa com deficiência dentro de uma escola com regime norma, independente da deficiência, a resposta ainda é a mesma: Não.
E não vou apontar culpados, pelo simples fato de acreditar que hoje nessa questão de INCLUSÃO SOCIAL, há muita gente com boa vontade, mas de boa vontade o Brasil está cheio. Hoje precisa-se de pessoas que queiram arregaçar as mangas e colocar a mão na massa, que se sintam incomodadas com o que temos hoje. E isso infelizmente está em falta. Vou mais além, e essa é para pais que tem um filho com deficiência intelectual refletirem: NUNCA deixe NINGUÉM dizer que seu filho é INCAPAZ. A INCAPACIDADE só existe para aquelas pessoas acomodadas, que julgam sem conhecer. Seu filho tem a capacidade mais bonita que pessoas ditas normais não tem: CAPACIDADE DE AMAR. E ele é capaz de fazer muitas outras coisas se for estimulado, se tiver alguém que saiba ouvi-lo e que entenda as suas necessidades.
Assim como todo tema que envolve a Inclusão Social, esse tema EDUCAÇÃO INCLUSIVA nos dá abertura para boas discussões sadias. Só nos resta saber que se quem fará parte dessa roda de discussão está disposto a ouvir e respeitar a opinião do outro.

"Do que eu sou a favor? Sou a favor de que as pessoas prestem mais atenção para tudo aquilo que está diante dos seus olhos. Julgar e apontar o dedo é fácil, mas tomar atitude para mudar o que se vê é algo bem complexo."



O NASCIMENTO DO BLOG : "SER DIFERENTE É NORMAL"

Muitas pessoas que acompanham o blog devem se perguntar a cada texto novo: Como surgiu a ideia de criar um blog e escrever textos que estivessem ligados a Inclusão Social?
Tudo começou a exatos 16 anos atrás, quando eu iniciei um trabalho terapêutico para aprender a lidar com as questões de preconceito, por ser uma pessoa que tem deficiência. A terapeuta sempre pedia para que eu encontrasse uma forma de extravasar a minha raiva e as minhas angústias. E me deu um exercício: escrever tudo em uma folha em branco, e quando esta estivesse totalmente preenchida, era para eu amassar e jogar a folha no lixo.
Fiz esse exercício por alguns meses, mas chegou um momento que não estava fazendo efeito como eu gostaria. Pois tudo o que era escrito só eu sabia, mas eu não estava gritando a minha raiva para o MUNDO. E foi aí que resolvi transcrever tudo o que estava na folha em branco para uma página minha, onde eu pudesse com os meus textos transmitir para qualquer pessoa tudo o que eu sinto, e que indireta ou diretamente outras pessoas com deficiência também sentem, mas tem receito de falar, expor.
Escrever me alivia, me acalma, me faz refletir e viajar em meus próprios pensamentos.. E como qualquer pessoa que gosta de escrever e tem seus momentos de inspiração, eu também tenho o meu momento e a minha mania. A música faz a minha mente trabalhar muito rápido, seja ela qual for.. Então, sempre que escrevo estou com fones de ouvido, ao som de qualquer música que eu goste, e ela quase sempre está no volume máximo, para que eu consiga me fechar dentro de uma bolha, eu, minha música e meus pensamentos. E detalhe, para cada texto ouço apenas uma música por várias vezes, pois minha mente é treinada a ter pensamentos e sonhos acordada com uma mesma música. A trilha sonora desse texto por exemplo está sendo: Ed Sheeran - Photograph.
A escrita para a minha pessoa é um hobby, e muito em breve irá se tornar algo mais sério. Gosto de escrever, pois a escrita virou a minha terapia eterna. Só fico um pouco insegura por não ter muito a noção se as pessoas curtem o que encontram por aqui, se elas gostam do que leem, se detestam.
As vezes sinto muita falta desse "feedback".. Não que isso vá mudar a minha maneira de escrever e de expressar as minhas ideias, mas é bacana você saber que está sendo escrito está causando algum tipo de reação em quem quer que seja.
Sendo bem sincera, o blog tem me trazido algumas respostas que eu já sabia antes mesmo dele nascer.. E é gratificante saber que de alguma forma, cada um deles tem tocado a mente e o coração das pessoas.

"Você não precisa estar 24 horas comigo para entender a minha dinâmica. Basta prestar atenção nos meus gestos, nas minhas ações, nas minhas escritas. Hoje eu aprendi a dançar conforme a música."


sábado, 29 de agosto de 2015

COMO NÃO FAZER DA SUA DEFICIÊNCIA UMA MULETA?

Sabe aqueles dias em que você espera tanto por uma conversa com uma amiga, que você quer dividir assuntos que vão ser passíveis de boas discussões e que você sabe que vai ouvir coisas que já te disseram milhões de vezes, mas que nunca foram colocadas em prática. Pois é, hoje foi assim.. 
Posso dizer que foram as melhores horas da minha vida, de verdade.. poderia ter ficado muito brava, ter retrucado, xingado, mas se fizesse isso perderia a razão.. E sabe o por quê?? Porque tudo o que eu ouvi foi dito com amor e a mais pura verdade.
É uma verdade que causa uma certa dor, que me leva as lágrimas, mas não por ser algo que me agrida física e emocionalmente, e sim porque eu sei que a minha postura de "vítima" em determinadas situações me breca em muitas ações.
Chegamos então no assunto do texto: Como não fazer da sua "DEFICIÊNCIA" uma muleta? Confesso a vocês caros seguidores, que nem eu sei responder essa questão.. Aos 31 anos isso é uma grande dificuldade.
Falo em dificuldade, pois algumas situações que acontecem em minha vida, eu associo imediatamente a minha deficiência, a minha pequena dificuldade motora.. Coisas como: derrubar um copo, cair na rua, escorregar na banheira do quarto de um hotel.
Como diriam algumas pessoas: QUEM NUNCA? Associar essas situações a sua limitação, a sua deficiência.. Isso para mim é algo que automático. Mas eu não sei dizer o porque desse comportamento, e se soubesse não repetiria os mesmos erros.
Vou lincar esse texto com um outro do blog, onde falo do olhar do outro, de como o outro olha para aquele que é diferente, que tem deficiência. Não estou querendo achar justificativas para as minhas ações e comportamentos, mas acho que vale a reflexão daqueles que acompanham o blog e que conhecem um pouco da minha história.
Pessoas que me conhecem de verdade, tem total liberdade para falar boas verdades, ou como disse essa minha amiga, "bater a real" sobre minhas ações e atitudes. Pois essas eu sei que se estiverem comigo, nessas situações, vão é rir da minha cara, e falar: Eita, lá vai a Robertinha roubar a cena de novo.
Mas algumas vezes é bem complicado você ter uma postura de não associar o acontecido a sua deficiência, pois os ÚNICOS OLHARES são de pessoas que vivem em uma sociedade em que a única frase que você vai escutar é: "Ajuda ele, ele é deficiente"; ou ainda: "Derrubou porque ele tem deficiência e não consegue se virar sozinho".
E aí, eu digo com toda a sinceridade do Mundo. O que seria de mim, sem essas amizades que me cobram sempre uma mudança de postura e atitude? Eu realmente não seria nada!!
É uma tarefa complicada pelo menos para mim, esse lance de não fazer da deficiência uma muleta, com base nesses episódios citados acima. Mas tenho tentado me policiar sempre.. 
Hoje as palavras da minha amiga bateram forte, me deixaram com um nó na garganta, me fizeram chorar.. Mas me deram a certeza de que essa amizade vale a pena, pois ela mais uma vez mostrou que É AMIGA DA ROBERTA E NÃO DA DEFICIÊNCIA QUE ELA TEM.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

PSICOLOGIA - TRILHANDO NOVOS CAMINHOS

A vida as vezes toma rumos inesperados. Esse ano de 2015 começou da melhor maneira possível, e para falar a verdade as mudanças começaram a acontecer no final de 2014. Depois de 10 anos voltar ao local que serviu como uma inspiração de vida e descobrir que ali se inicia a sua trajetória como Psicóloga, não há sensação mais gostosa. 
Quando eu cheguei na Associação Conviver, estava no início da faculdade e fui para lá realizar um trabalho como voluntária com jovens e adultos com deficiência mental. Precisei sair do trabalho de voluntária pois havia arranjado meu primeiro emprego, e não conseguiria conciliar as duas coisas. Isso me deixou muito chateada, pois trabalhar com pessoas tão especiais, me fez ter uma outra visão sobre a minha deficiência. Mas a verdade, é que esse vínculo criado nunca se quebrou, e mesmo distante sempre mantive contato.
Passaram-se 10 anos e para a minha surpresa, no final do ano passado recebi um convite da Coordenadora da Associação para retornar e iniciar a elaboração de um projeto, e sem pensar duas vezes aceitei o convite. Fazem 6 meses que retomei as atividades com a turma, e nesse período tive uma grata surpresa da Coordenadora Silvana, que acreditou no meu potencial e me permitiu iniciar também o trabalho na minha área de formação, área que amo que é a Psicologia.
E o que era para ser um projeto, se desmembrou em vários. Cada dia estou me envolvendo mais, me apaixonando mais, e sempre muito pilhada e motivada. Aprendizado nunca é demais, e com a minha turminha sempre aprendo coisas novas.
Tudo fica mais fácil quando você tem o apoio de um outro profissional da mesma área. Minha relação com a Silvana sempre foi muito boa, e de muito respeito e cumplicidade. Trocamos experiências diariamente, e descobrimos alguns pontos em comum: o AMOR pela Psicologia, e o AMOR pela Inclusão Social.
A menina que a 10 anos atrás era voluntária, hoje é Psicóloga na Associação Conviver. O que mudou nesse longo período? Acho que hoje amadureci bastante, estou mais focada no que eu quero, e tenho a certeza absoluta que trabalhar com pessoas com deficiência é o que realmente me dá prazer e me faz feliz. 
Mais uma vez Papai do Céu colocou no meu caminho, na minha vida profissional um ANJO DA GUARDA. Seu nome: Silvana.  Minha parceira de trabalho, minha amiga, pessoa que admiro e respeito demais. Pouco sei da sua história de vida, já ela sabe muitas coisas da minha história, da minha vida. 
Em 6 meses já rimos e choramos juntas muitas vezes, mas entre risos e lágrimas temos uma única certeza: NOSSOS CAMINHOS SE CRUZARAM POR UM MOTIVO MUITO ESPECIAL, QUE É BRIGAR PELOS DIREITOS DOS NOSSOS MENINOS E MENINAS.

"Quando se ama o que faz, tudo fica mais fácil. Se permita sonhar e acreditar, afinal: SONHO QUE SE SONHA JUNTO, É REALIDADE".

INCLUSÃO - ANTES DE FALAR QUE VOCÊ FAZ, É PRECISO ENTENDER O CONCEITO.

É tão incomodo você ouvir relato de pais de pessoas com deficiência, e descobrir que você também já ouviu e ouve isso de pessoas em qualquer lugar que você vá.. Uma mãe que ouve a frase: "Nós não trabalhamos com esse TIPO de criança". Isso é doloroso, é um soco na boca do estômago. Sinceramente, essa história de que falta conhecimento, de que a sociedade não está preparada, virou muleta pra muita gente..
Esse novo quadro do programa do Fantástico, apresentada pelo Doutor Drauzio Varella, que leva o título de "Qual é a Diferença?" vem para mostrar um pouco da rotina das pessoas que tem Síndrome de Down e de seus familiares. Confesso que to vidrada em cada história contada, mas ao mesmo tempo um tanto quanto indignada e perplexa com algumas histórias apresentadas. 
O que está sendo apresentado, não é EXCLUSIVIDADE de uma pessoa com Síndrome de Down. Não é preciso ir longe para encontrar outras pessoas com outras deficiências, que passaram ou passam pelo mesmo tipo de constrangimento, ou pelas mesmas inseguranças. Eu posso falar com propriedade que nos dias de hoje ainda vejo e vivencio situações que me incomodam demais.
A minha deficiência não me deixou grandes sequelas, e hoje aos 31 anos já estou formada e desenvolvendo trabalhos na minha área de formação, que é a Psicologia. Mas falando assim, poucos sabem da minha real trajetória de vida, das minhas barreiras vencidas, das minhas angustias, meus medos. Muito do que conquistei hoje foi graças ao apoio e persistência dos meus pais, que sim, já ouviram "NÃO PODEMOS MATRICULAR SUA FILHA AQUI", mas que NUNCA desistiram de brigar pelos meus direitos.
O que mais me preocupa são os rumores de que as ESCOLAS ESPECIAIS poderão ser extintas.. E a pergunta que faço é: para onde vão as crianças que são atendidas por essas escolas?? Para as ESCOLAS DE ENSINO REGULAR?? E como será feita a capacitação desses professores??
Na minha humilde experiência de vida, eu posso dizer que a EDUCAÇÃO INCLUSIVA tem muito a ser melhorada para ser algo de exemplo.. Se você me perguntar se ela dará certo, quem sabe daqui a alguns anos. Hoje é algo muito no início, e que precisa de muitas melhorias.

"Falar de Inclusão virou "modinha". Todo mundo acha lindo e adora falar que faz, mas são POUCOS aqueles que sabem aplicar o verdadeiro conceito da palavra".

quarta-feira, 15 de abril de 2015

NÃO SOU DEFICIENTE, FAÇO A DIFERENÇA


Nesse vídeo trago um pouco da minha trajetória de vida, desde a minha infância até os dias de hoje. Nele também conto um pouco do meu retorno ao trabalho na Instituição Conviver, lugar onde pude ter a certeza de que escolhi a área certa para atuar.. Minha formação em psicologia tem me dado bons frutos, e cada dia mais a certeza de que trabalhar com pessoas com deficiência, visando sempre a inserção destas na sociedade, é a minha melhor vocação.

Quero agradecer nessa postagem duas pessoas: uma delas foi a responsável pela filmagem do vídeo, minha amiga / irmã de coração Angie Chalas. A outra é a coordenadora da Instituição Conviver, minha amada e sempre querida Silva Gramignoli.

Meninas, graças ao apoio e confiança que vocês tem em mim está sendo possível ver o quanto valeu a pena cada ano de faculdade. Hoje mais do que nunca, sei o quão longe posso chegar com o carinho e confiabilidade de pessoas como vocês.



quinta-feira, 5 de março de 2015

ATITUDES QUE FAZEM DE VOCÊ UM SER HUMANO CAPAZ

Já pararam para pensar em atitudes de pessoas ao nosso redor, que nos fazem sentir valorizados e importantes?? Talvez quando se tem uma deficiência, essa percepção seja ainda mais refinada, e mais constante.

Frases como: "Por favor, me ajude a arrumar essas coisas?"; "Por favor, você pode ajudar a professora com aqueles alunos?", significa que você tem capacidade para desempenhar tal função ou atividade.

Mas por quê a ênfase na pessoa com deficiência? Porque para nós se sentir útil e capaz é um prêmio de valor incalculável. Sim, caros leitores, é exatamente assim, dessa maneira que vos escrevo. E vocês podem torcer o nariz, dizer que é exagero, mas qual de vocês já não disse a seguinte frase: Não pede para ele, ele é deficiente e não consegue.

Eu só queria saber quem foi o INFELIZ que disse DEFICIÊNCIA é sinônimo de INCAPACIDADE, e que LIMITAÇÃO significa NÃO PODER FAZER??

E é com o novo trabalho na Instituição Conviver que estou tendo a oportunidade de ser valorizada pela pessoa que sou, não pela minha deficiência.. E posso ver isso com os meninos e meninas que lá estudam, onde fazem todo o tipo de atividade e são valorizados como pessoas.

É muito bom saber que a coordenadora Silvana, confia no meu trabalho e sabe que pode contar comigo para ajudar em qualquer atividade a ser realizada com os alunos. E melhor ainda é saber que os alunos me enxergam como uma integrante da turma, que está ali não só para ajudá-los, mas para aprender junto com eles que quando temos força de vontade, a deficiência se torna invisível.

UMA TROCA DE APRENDIZADOS




Não há sensação mais maravilhosa do que você sair de uma aula de dança e se sentir leve.. e no dia seguinte a música que você ouviu e os passos que você aprendeu não saem da sua cabeça.
Se eu sei dançar?? Não muito, mas adoro aprender e tentar acertar os passos de qualquer coreografia.. 

E de repente você se vê fazendo aula com outros alunos, praticamente invade a aula deles, a convite da professora, e aí você se dá conta que naquele grupo todos tem um mesmo objetivo, uma mesma vontade: APRENDER A DANÇAR.

E então você vai auxiliar os alunos e ouve a seguinte frase: Nós vamos acompanhar você, você faz os passos e a gente te segue.. Eu então olho para eles e digo: vamos aprender juntos os passos, e vamos conseguir fazer tudo certo.

A música começa e todos começamos a contar os passos juntos, e depois de uma ou duas vezes comemoramos os nossos acertos e rimos dos nossos erros... Mas uma coisa era certa: Ali éramos todos alunos da Profª Milagres.. sim, todos nós estávamos e estamos aprendendo a dançar, e eu tenho certeza de que vamos chegar longe.

Eu aprendo com eles e eles aprendem comigo.. O que nos torna diferentes?? A idade, a altura, o peso... A deficiência é o que menos importa, afinal de contas, ela só existe para aqueles que fazem questão de torná-la um empedimento.



UMA NOVA OPORTUNIDADE SURGIU

Passaram-se 5 meses desde a última postagem... Confesso que para que eu consiga desenvolver textos de qualidade, e que de certa forma despertem o interesse de seguidores e também dos não seguidores do meu blog, eu tenho que estar inspirada e com a imaginação em alta. Afinal essa autora que vos  escreve, vive sonhando acordada em todas as criações de seus textos, na companhia de uma boa música que se repete por diversas vezes, até que o texto esteja finalizado.

Por muitas vezes pensei em desativar esse blog, que tem como foco principal o tema: "INCLUSÃO SOCIAL", por simplesmente achar que ele não teve a visibilidade e também não teve a sensibilização referente ao tema, que eu imaginei que teria.

Mas um convite recebido no final do ano passado, me fez ter a certeza de que o meu maior desejo de trabalhar com a inclusão, iria se realizar. E em Janeiro deste ano, eu retomei o meu trabalho na Instituição Conviver... sim, depois de 11 anos, estou de volta a Instituição que desde sempre me recebeu de braços abertos.. Claro que dessa vez, estou mais madura, e com outros objetivos a alcançar, mas confesso que é muito bom ser lembrada com tanto carinho depois de longos anos.

O convite partiu da minha amiga e coordenadora da Instituição, Silvana... E ela nem precisou dizer o que queria ou o que tinha de proposta para fazer.. Eu topei sem nem querer saber o que viria pela frente..

Eu costumo dizer que a Silvana, ou melhor, a tia Sil é um caso de amor eterno.. Temos nossos assuntos confidenciais, e tenho a confiança dela para trabalhar com nossos meninos e meninas.. Posso dizer que estou em casa, e super a vontade.

Chego a conclusão que por mais que esses textos não agradem a todos, eu não posso fugir da minha realidade e nem dos meus sonhos. Trabalhar com a Inclusão Social é algo extremamente prazeroso e também desafiador, mas é o que me traz a felicidade plena.