terça-feira, 3 de maio de 2011

AMIZADES, NAMOROS, PAQUERAS: BARREIRAS, MEDOS E ANGÚSTIAS ENFRENTADAS POR UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.

Quando somos crianças temos em nossa vida algumas pessoas que consideramos essenciais em nossa vida, nossos pais, nossos tios, avós. Temos alguma pessoa que consideramos muito importante e que sem ela a vida não teria graça.
Nessa época começam a surgir as primeiras amizades com o início da alfabetização, aparecem na escola os grandes amiguinhos que convivem com a gente durante boa parte do ano, e muitas vezes nos acompanham em atividades fora da escola. Quem é que nunca pediu pra ir a casa de um amiguinho quando era criança, ou pediu pra levar um amiguinho em casa?
A medida que crescemos vamos conhecendo novos amigos e aumentando o círculo de amizades, e dentre essas amizades surgem também as primeiras paqueras, que logo mais passam a ser um namoro sério.
E é assim que acontece com cada um de nós, quando somos crianças temos a proteção de nossos pais e estamos conhecendo o mundo, e a medida que vamos crescendo descobrimos que precisamos abrir nossas asas e voar para um novo lugar, superando obstáculos e dando um passo de cada vez.
Mas será que quando nascemos com alguma limitação as coisas acontecem da mesma maneira? Ser diferente interfere na busca por um relacionamento?
As respostas dessa pergunta podem estar no final desse capítulo, e cabe a cada um tirar a sua própria conclusão. Mais uma vez para exemplificar o texto vou contar um pouco das minhas relações com amigos, algumas paqueras e um namoro que não deu certo.
Comecei minha jornada na escola desde muito cedo, pois meus pais trabalhavam e como minha avó tinha receio de ficar comigo por conta da minha deficiência fui para a escola onde minha mãe me deixava as 7:00 e me pegava as 18:00. Na escolinha eu pude desenvolver minha coordenação motora, e foi na escolinha que aprendi a andar aos 4 anos de idade, quando a diretora surpreendeu minha mãe que ao chegar na escola me viu em pé encostada na parede aos prantos e a diretora a proibiu de me pegar e disse que era para eu ir até a minha mãe. E foi a partir dessa atitude que eu comecei a andar, e minha mãe percebeu a importância daquele momento para o meu desenvolvimento.
Passada a fase do berçario, passei para a fase de alfabetização onde posso dizer que foi uma fase tranquila, ficava de manhã com a minha avó e ela me levava a tarde pra escola. O período da pré escola foi cheio de grandes descobertas, de muitas amizades, e de muito carinho por parte das professoras.
Quando entrei para a primeira série do ensino fundamental algumas coisas começaram a mudar, os colegas de classe tinham olhares diferente por conta das minhas limitações. Começava naquele momento a minha luta contra o preconceito, a luta para ser aceita pelos colegas e não ser excluida da turma. Eram dias e dias na sala da diretora aos prantos porque todos me excluiam de alguma forma, e assim foi até o término do colegial sem grandes amizades, sem grandes conquistas, apenas um grande esforço para superar a intolerância dos colegas e tentar uma maior proximidade.
Na faculdade tudo foi bem diferente onde eu amadureci e descobri que as pessoas tinham que me aceitar como eu era, e se isso não acontecesse elas não poderiam ser minhas amigas. Foram quatro anos e meio até eu me formar e da faculdade também não trouxe grandes amizades, daquelas que ficam pra sempre, apenas alguns colegas que de vez em quando tenho contato.
Nesse priodo entre o Ensino Médio e  a faculdade nunca tive nenhuma paquera, e a única relação de namoro que tive durou cerca de dois anos e acabou porque descobri que ele não me aceitava como sua namorada na frente dos amigos, pois tinha medo de perder os amigos quando eles descobrissem que eu tinha uma deficiência.
Após o relato acima será que para as pessoas com deficiência essas relações de amizade e namoro acontecem da mesma maneira? Ter uma amizade ou namorar alguém com deficiência tem alguma diferença?
Se pararmos para refletir sobre essas duas questões poderiamos pensar no que hoje chamamos de padrão da normalidade, ou seja, uma namorada/namorado ideal tem que ter um corpo bonito, tipo violão, sarado, moreno (a). Tem que ser perfeito, caso contrário não está de acordo e pode nos fazer passar vergonha. Hoje eu estou solteira, por opção talvez. Mas prefiro acreditar que ainda não encontrei a pessoa certa, alguém que seja capaz de me amar e me aceitar como sou.
No caso da amizade podemos dizer que o amigo (a) precisa ser corajoso para enfrentar os outros colegas que tem o preconceito em mente. Quanto as minhas amizades posso dizer que tive grandes amizades, alguns desses amigos partiram para uma outra vida, outros se foram sem a menor explicação e deixaram saudades e muita tristeza em meu coração. Hoje eu tenho presente em minha vida uma pessoa que eu tenho como minha irmã de coração. Nos conhecemos em 2008 quando eu estudava onde ela dava aulas de inglês, e desde de o primeiro instante ela sempre teve um carinho e um respeito muito grande por mim.
Minha amiga Angie, hoje muito mais que minha amiga, está presente em muitos momentos da minha vida, já rimos e choramos juntas muitas vezes e eu faço questão de dividir com ela cada momento da minha vida. Ela sempre teve um carinho, um cuidado comigo como de irmã, e nunca me deixa ficar triste com as coisas que acontecem comigo. Estamos juntas em vários momentos e se tem algum lugar pra ir como shows, teatros e cinema, a gente da um jeito pra ir junto.
Com ela eu me sinto muito segura, sem medo de enfrentar os obstáculos porque eu sei que se eu precisar ela estará sempre por perto. São tantas coisas que tenho para falar dessa minha amiga, dessa minha grande amizade que um capítulo só é pouco. Mas o que mais admiro nessa minha amiga é a sua sinceridade e cumplicidade, ela nunca me negou um minuto do seu tempo nas horas em que mais precisei, e para ela eu não tenho deficiência sou uma pessoa como qualquer outra. Isso é o que me deixou mais feliz, o fato de me enxergar como uma pessoa normal, sem ter deficiência.
Para encerrar esse capítulo quero deixar algumas palavras que com certeza servirão para reflexão de cada um, e posteriormente trarão alguma resposta para as perguntas feitas nesse capítulo.
O padrão de normalidade pode estar dentro da cabeça de cada um de nós, o que para um é o ideal para o outro pode não ser. Não julgue as pessoas apenas pelas limitações que elas venham a ter, as vezes o seu julgamento pode estar errado, e você pode estar desperdiçando a chance de começar uma amizade ou até mesmo um namoro.
Aprenda a apreciar o outro da maneira como ele é, com seus defeitos, suas qualidades, seu modo de pensar e agir. Julgar o outro pela aparência pode trazer graves consequências para nós mesmos.

“A DIFERENÇA FAZ PARTE DA VIDA, BASTA VOCÊ APRENDER A CONVIVER COM ELA DE MANEIRA SAUDÁVEL SEM PREJUDICAR AO OUTRO E A SI MESMO.”



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