Uma visão diferente sobre inclusão social descrita por uma pessoa com deficiência.
Para esse projeto elaborei um questionário com o objetivo de coletar dados sobre o dia a dia, o convívio das pessoas com deficiência em meio a sociedade, a relação com a família, com os amigos, os medos, os aprendizados, as conquistas, e tudo sobre a relação no meio social.
Quando uma família recebe a grande noticia de que a chegada de um bebê está próxima, começam os preparativos para essa grande data, onde toda a família se organiza e faz inúmeros planos para que esse bebê seja bem recebido no novo lar. Mas tudo se transforma em segundos, quando os pais recebem a notícia do médico de que o bebê nascerá com uma má formação.
Em 16 de junho de 1984, nasce aos sete meses a pequena Roberta com o diagnóstico de hidrocefalia, deficiência causada pela interrupção da passagem do líquido amniótico pelo cérebro, gerando um acúmulo e comprimindo o crânio. Com o diagnóstico feito, foi preciso realizar a cirurgia para a implantação de uma válvula para a drenagem do líquido, foram feitas duas cirurgias aos três dias de vida e outra aos 11 meses para a implantação das válvulas do lado direito e do lado esquerdo. Para o neurocirurgião as seqüelas poderiam ser diversas, inclusive a possibilidade da menina não poder andar.
Após a realização das cirurgias, começou-se uma intensa rotina de fisioterapia e terapia ocupacional para que Roberta desenvolve-se cada vez mais os seus movimentos e a sua coordenação motora. Os primeiros passos foram dados com o auxílio da escola infantil que incentivava a todo o momento o desenvolvimento da menina, que começou a andar sem a ajuda dos pais, aos quatro anos de idade. A partir daí o desenvolvimento de Roberta era cada dia melhor com a ajuda das terapeutas e das tias da escola.
Quando ingressou no ensino fundamental a relação com os colegas de classe não foi muito fácil, pois devido às limitações que ficaram em função da deficiência os colegas tiravam sarro. Ainda nesse período precisou fazer nova cirurgia aos 12 anos, para a troca de uma das válvulas. Durante boa parte do período escolar, Roberta enfrentou muitos preconceitos, e por conta disso começou a fazer tratamento terapêutico para aprender a lidar com esse olhar diferente dos colegas.
Ao término do Colegial, entrou para a faculdade de psicologia onde cursou quatro anos e meio, sem maiores problemas com os colegas de classe. Os problemas com o preconceito eram visto na própria sociedade, nos ônibus, e nas ruas. Mas com a ajuda da psicóloga, ela conseguiu superar as barreiras. Aos 24 anos conseguiu seu primeiro emprego, e hoje aos 26 anos, já formada está trabalhando a seis meses em outra empresa e se sente muito feliz e realizada com suas conquistas.
A história acima contada é a minha história, a minha vida. Quando se fala de inclusão social, imaginamos que ela existe, porém muitas vezes ela parece estar escondida em algum lugar onde não é possível encontrar. Ao ler os questionários que recebi, foi possível perceber que existem muitas pessoas que se preocupam com a inclusão social, que vêem e convivem com pessoas com deficiência, e que principalmente dão a essa pessoas o grande prazer de serem amadas e aceitas da maneira que elas são com as limitações que elas têm.
Um ponto muito mencionado nos questionários foi a questão das mudanças ocasionadas com a relação estabelecida com a pessoa com deficiência, onde as pessoas relataram que estar ao lado de alguém com algum tipo de deficiência traz muitas coisas boas, há uma troca de aprendizado, e principalmente há um crescimento pessoal imenso.
Após ler e reler os questionários tenho uma definição própria para todas essas pessoas que nos enxergam como pessoas normais e muito capacitadas a fazer qualquer coisa.
“Quando nascemos com alguma deficiência, somos acometidos pela insegurança, pelo medo, pela falta de perspectiva. Somos seres fragilizados em busca de alguém que nos possa acolher e aceitar da maneira que somos, e nos sentimos imensamente felizes quando encontramos essa pessoa. Essa pessoa que nos recebe de braços abertos sem julgamentos passa a ter um papel especial em nossas vidas, onde ela sempre nos acolhe e nos mostra o melhor caminho a seguir, e faz tudo isso sem pedir nada em troca, e sem nos olhar com pena. A todas essas pessoas eu daria o nome de ANJOS DA GUARDA, pessoas que zelam pelo nosso bem estar e que se sensibilizam a cada conquista nossa.”
A inclusão social existe na vida de cada pessoa, e para que ela seja vista de maneira clara e objetiva é preciso que cada um de nós, deficientes ou não, passe a olhar o mundo a sua volta respeitando sempre as limitações do outro, na forma de pensar, na maneira de agir.
Para finalizar o texto, gostaria de deixar uma frase que faz todo o sentido, e dizer que inclusão social para acontecer necessita apenas de bom senso e força de vontade.
Essa frase serve para cada um de nós refletirmos e ter a certeza de que tudo o que é IGUAL acaba se tornando com o tempo chato e sem graça.
“POR QUE SER IGUAL A TODO MUNDO, SE NEM OS DEDOS DAS MÃOS SÃO IGUAIS?”
Aposto que você nunca tinha pensado dessa forma, não é mesmo? É por isso que o título para o texto não podia ser outro, porque sem sombra de dúvidas:
“SER DIFERENTE É NORMAL.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário